domingo, 4 de maio de 2008

Passo por desfolhamentos...

"Maior que o infinito é o incolor.
Eu sou meu estandarte pessoal.
Preciso do desperdício das palavras para conter-me.
O meu vazio é cheio de inerências.
Sou muito comum com pedras".


Manoel de Barros


Nascido no Pantanal, Manoel de Barros é o "grande poeta das pequenas coisas", "o lírico da ecologia", "o virtuoso do realismo mágico", como muitos críticos literários tentam definí-lo. Mas na realidade, ele é tudo isso e muito mais.

Ele mesmo se vê como um alquimista do verbo e diz que moe, disseca e recria as palavras até chegar ao caroço, ao lírico seminal de cada uma.

Mas o que tem a poesia de Manoel de Barros a ver com a criação de bijouterias?

Nada. E tudo.

Foi de um dos poemas dele que tirei o título da instalação que fiz para a coletiva da minha turma de pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Laje, em novembro de 2006.


"Passo por desfolhamentos", são folhas e folhas de papel japonês pintadas em técnica mista, monotipias feitas com tinta acrílica e papel amassado, como em uma impressão. As folhas de papel foram colocadas umas sobre as outras como uma cascata que se espalha pelo chão.


Pois é, esta é outra paixão minha: a pintura. Pintar, para mim, também tem sido uma experiência incrível. E também um processo de criação. Olhar para o suporte (tela ou papel) em branco e enfrentar o desafio de fazer dele uma obra de arte. O quê fazer? Como começar? Qual é a proposta? Quais as cores?


Para mim, fazer bijouterias é também uma maneira de expressar um pensamento, como na pintura e também uma forma de arte. Um outro tipo de arte, mas que, da mesma forma, passa por vários estágios e pensamentos, faz as mesmas perguntas e tem as mesmas respostas.

Assim como as monotipias que faço na pintura (o acaso e a intenção têm um resultado único), minhas bijouterias são também únicas. Podem ter uma outra cor, um outro detalhe, mas apenas uma peça de cada.

Mas como hoje é dia de falar das pinturas...



O título da exposição, "Em qualquer rota que eu faça", foi retirado de um trecho da música "2001", de autoria de Tom Zé e Rita Lee, gravada pelos Mutantes nos anos 70.

No convite que foi feito pela nossa professora e também curadora da exposição, diz que "a letra, embebida da demanda tropicalista, fala de um astronauta do futuro e sugere que, apesar da rota que façamos, do caminho que tracemos, não seremos tragados pelo buraco negro, - este sendo igual a tudo fora dos limites do possível, e, ao final, sempre estaríamos diante de uma rota qualquer entre tantas, mas uma rota, uma meta."

E continua, "Em qualquer rota que eu faça" apresenta um pouco das pesquisas dos participantes do curso "O Estudo da Pintura". A meta é uma livre navegação no universo de possibilidades infinitas deste meio, onde as rotas são processos individuais, mutantes e dinâmicos. Aqui somente nos importa que, a cada momento da trajetória se forme a consciência, - dado que Arte é Pensamento-, do que se quer, do porque e de como abordar. O caminhar/construir o caminho é a rota e a meta."




Até outro dia!

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